22 de jun. de 2013

Protestos pelo país: prós e contras


Sou um sujeito muito desconfiado da maioria dos movimentos sociais. Costumo ficar com um pé atrás, quando deparo com situações de reivindicações, especialmente quando estas estão agregadas a alguma facção política ou entidades que se dizem representativas, mas mantêm ligação com partidos políticos, o que por si só deslegitima a causa. No entanto, apesar de muito indefinidas e com restrições, as manifestações ocorridas na última semana não podem passar despercebidas por ninguém, sendo destaque nos principais jornais estrangeiros. A angústia do povo brasileiro ultrapassou os limites.

Iniciada com a justificativa de se combater o aumento excessivo de passagens de transportes coletivos, em São Paulo, pelo “Movimento Passe Livre”, a manifestação coincidiu com o período da Copa das Confederações, evento-teste antes da Copa de 2014, que tem indignado os brasileiros, pelos gastos excessivos nos estádios. A partir daí, a FIFA e as autoridades políticas também passaram a ser hostilizadas (cite-se a vaia à Presidente da República Dilma, e Joseph Blatter, Presidente da entidade máxima do futebol, na abertura do torneio), visto que áreas como saúde, educação e segurança têm sido historicamente ignoradas pelos nossos políticos. Com um efeito dominó, as pessoas – em várias capitais – começaram a ir para as ruas exercer o direito que a Constituição garante, mesmo que não aparentassem conhecer, em alguns casos, as razões de estarem protestando.

Infelizmente, no Brasil, as coisas parecem ser mais complexas do que em outros lugares. E problemas começaram a existir, de parte a parte: por um lado, a truculência da polícia (representando o Estado) contra cidadãos que apenas exigem o que seus impostos deveriam assegurar, e contra parte da imprensa que cobria os fatos; por outro, vândalos infiltrados nas passeatas destruindo patrimônio público e privado, distorcendo totalmente a idéia original das mobilizações, que é cobrar das autoridades aquilo que elas devem promover, não realizar badernas. É claro que a proporção de pessoas com intenções duvidosas dentro das marchas percebe-se insignificante (em termos quantitativos), mas isso acaba manchando as causas, quaisquer que sejam, dessas campanhas. A TV Globo, por exemplo, apoiou-se nesses acontecimentos isolados para, no início, desqualificar o movimento. Teve que mudar de atitude depois que percebeu a sua proporção.

O ponto positivo, até agora, é que não se permite a entrada de partidos políticos, pelos menos que tenhamos conhecimento. E isso eu vejo com um avanço, já que tais facções também são parte dos problemas por que passa o Brasil. A lista interminável de siglas partidárias só confunde o povo, que já não acredita mais em nada. O momento que estamos presenciando exige uma reflexão profunda do escalão maior da política brasileira. Eu diria, aliás, que exige reconsideração de conceitos dos três Poderes, sabendo que normalmente o Poder Judiciário ainda intimida a população, a qual se resigna em criticá-lo. Um recado tem sido dado: este é, excetuando-se os casos já citados, um movimento sem bandeiras, uma demonstração de insatisfação popular, do cidadão não filiado a nenhuma entidade ou congregação política, do pai que perdeu o filho num latrocínio, do mercante que teve seu pequeno comércio assaltado, cujos criminosos continuam à solta pelas ruas, barbarizando e aterrorizando as pessoas.

Há uma clara insatisfação do povo brasileiro, que já não suporta mais ser massacrado, ser lesado, ser ignorado pela classe política. Isso é evidente e justifica as aglomerações de pessoas que, somadas todas as cidades que registraram esses eventos, ultrapassam 1 milhão e 200 mil adeptos. Temo apenas que os movimentos se dispersem pela falta de um direcionamento, de causas mais bem definidas. Não se tem – a esta altura – um foco de reivindicações, posto que, com a ajuda das poderosíssimas ferramentas sociais, alguns começaram a aderir a causas das quais nem têm tanta consciência; muitos estão nas caminhadas para aparecer em redes sociais com cartazes, e outros se integram pela “novidade”, por algo diferente que chama a atenção. Seria preciso uma melhor condução desses movimentos, com finalidades específicas e pontuais, a fim de fortalecer um acontecimento que já é histórico.

Para que o recado dado pelo povo tenha credibilidade e, portanto, conquistas concretas sejam alcançadas, é necessário que não se faça dessas mobilizações uma “farra”, uma diversão, uma balada. Porque se isso ocorrer, estaremos apenas prolongando o carnaval, o samba, o futebol, elementos que costumam esconder nossas mazelas. É preciso que os próprios manifestantes de bem se organizem para afastar os desordeiros desses eventos, os quais estão aí inclusive pela ausência da segurança reivindicada, por não terem tido a educação sonhada ou por lhes faltarem perspectivas de futuro. Se queremos um movimento legítimo, é preciso também fazermos nossa parte, deixando as “pequenas corrupções diárias” de lado: não mentirmos para faltar o trabalho, devolvermos um troco a mais que nos passaram, não agirmos de maneira desleal em certos negócios. Afinal, a corrupção começa de baixo e, então, é a partir daí que ela deve ser combatida. Isso é organização popular, talvez o que ainda falte ao movimento como um todo. Caso tal sistematização não aconteça, daqui a um mês nem se falará mais nisso; havendo organização e legitimidade nas solicitações, ficará difícil contestá-las em qualquer instância.

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